Verbetes sobre Túpac Amaru I e seu legado para a luta Indígena

Por Felipe Lustosa, Historiador e Filósofo.
Em
14 de abril de 1572, Túpac Amaru levantou mais de dois mil e oitocentos indígenas
nas regiões e Vilcabamba, Cusco, Chuquichaca, Charahuasi e
Chuquisaca contra o jugo hispânico representado pela extração
compulsória de mais-trabalho nas minas de prata e em haciendas.
De
origem nobiliárquica, Túpac Amaru I sucede seu Irmão Tito Cusi
Yupanqui assumindo o nome de Manco Capac II (em 1570) vindo a se
tornar o último sapainca de seu povo. Túpac Amaru I se colocava contra a subsunção formal e real dos nativos da área andina supracitada ao Pacto Colonial. Ele se levantou contra a Mita [ou Cuatequil], a Encomienda e contra o processo de cristianização do povo andino outorgado, lançado pelos jesuítas de verve agostiniana, vindos de Espanha.
A Revolta foi esmagada pelo Vice-rei e pelos governadores dos Cabildos [1] das cercanias locais (vilas fundadas pelos Chapetones), estes espanhóis responsáveis pela curatela dos cabildos encarregaram para conquista das regiões revoltosas uma malta de corsários vigaristas [promovidos a conquistadores]. Eram eles: como líder de expedição contaram com Martín Hurtado de Arbieto; como mestre armeiro de campo e coronel de campanha contaram com Juan Maldonado, como comandante de divisão contaram com o vil Garcia de Loyolla e finalmente, na condição de tenente de campo, contaram com Pedro Sarmiento de Gambôa.
Os
Espanhóis montaram uma tropa híbrida composta por duzentos e cinquenta espanhóis,
dentre eles: cinuenta cavaleiros, cem rodeleiros, trinta e dois arcabuzeiros e sessenta e oito balestreiros estes foram escoltados por dois mil nativos Cañaris [os Cañaris eram inimigos mortais dos incas desde as guerras civis entre
Atahualpa e Huascar [2], muitos vinham da região hoje
conhecida como Equador].
Amaru
contou com sua Panaca
[3] nobiliárquica comandando os exércitos, dentre os curacas mais leiais ele também contou com a famosa e
mítica divisão Chuncho,
estes eram guerreiros Antis
vindos de Cusco, arqueiros e fundeiros os quais se alimentavam com a carne de suas
vítimas [4]. Dentre os curacas de Manco II estavam os generais Coya
Topa, Hualpa Yupanqui e Curi Paucar, estes eram os principais
generais do exército Inca.
O comandante de Campo Garcia de
Loyolla tem a sorte de ser poupado em um destes confronto quando um de seus
arcabuzeiros o salva a vida, atirando em Hulpa Yupanqui à queima
roupas e pelas costas. Após a baixa de um de seus generais, os Incas
são rechaçados e os espanhóis tomam o Palácio da cidade de
Vitcos. Após isso Pedro Sarmiento de Gambôa -em um cerco de alguns
dias-, toma a fortaleza de Vilcabamba e por meio de várias
escaramuças captura a família do sapainca e embosca a Túpac
Amaru I.
Em 24 de setembro de 1572, o sapainca é condenado à morte por decapitação, a ele é imputada muitas mentiras, como a responsabilidade pela morte de alguns missionários espanhóis na região de Chuquichaca. Os espanhóis derretem o Estandarte da Divisão Anti [A Estatueta de Ouro de Punchao] e queimam a múmia de seu antepassado, o rei Manco Capac I e a de seu irmão finado Tito Cusi Yupanqui. O Legado de Tupac Amaru I foi aquele de ter se tornado o maior ícone da a luta e resistência indígena contra os algozes hispânicos e contra a acumulação de capital europeia a qual fora expressada no mercantilismo, no pacto colonial, na exploração nativa e no metalismo espanhol.
Duzentos e dez anos mais tarde, em 1780, seu bisneto, [influenciado pelo Iluminismo] Túpac Amaru II capitanearia um exército de mais de cinco mil e novecentos indígenas, mestiços e negros, sendo esta a maior revolta indígena da América Latina contra a dominação da metrópole Espanhola, contra as formas compulsórias de extração de mais-trabalho. Ainda que os Tupac's tenham sido subjugados pelas classes dominantes da metrópole na colonia, seus exemplos de resistência e luta indígena ainda vivem e pulsam no peito de todos os povos originários.
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[1]
- Os cabildos tratam-se das câmaras de administração local
estabelecidos nas colônias pela metrópole tendo por meta a centralização do poder nas colônias. Os magistrados que regem
os Cabildos, são em sua totalidade espanhóis natos, também
conhecidos como Chapetones, em um segundo momento a oligarquia dos criollos, passa a ser a classe proeminente nestes espaços. De Acordo com a Enciclopédia Britânica de História Latino americana:
"As sessões ordinárias dos cabildos resolviam vários tipos de problemas como a administração de bens comuns, o policiamento e higiene das ruas, ensino, abastecimento da cidade, determinação de valores de venda de serviços e bens, regulamentação de ofícios urbanos, regulamentação de um sistema de pesos e medidas. Também intervinham na ação da justiça na cidade".
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[2] - Trata-se da guerra travada entre os filhos de Huayna Capac, Atahualpa e Huascar pela sucessão real.
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[3]
- Termo para nobreza inca aplicado à corte do Sapainca.
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[4] - Os nativos do Antisuyo [termo que significa terras do leste], estes eram Ashanincas e Tsimanes, possuiam esta reputação desde às expedições de Tupac Yupanqui (1471 - 1493), o qual mobilizou cerca de 10.000 homens para submeter aquele suyo em uma campanha naval e após a guerra, somente 1000 de seus homens voltaram com vida. As lendas eram recontadas pelo irmão de Túpac Amaru, Tito Cusi a fim de inspirar medo nos espanhóis.
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Bibliografia
SAUNDERS.
J. N;.Américas Antigas, São Paulo, Editora Madras, 2002.
CARDOSO.
C.F;. O Trabalho
na América Latina Colonial, São Paulo, Editora Ática, 1985.
SARMIENTO de GAMBOA. P.; History of the Incas, presente in: https://books.google.com.br/books?id=D3hpAwAAQBAJ&pg=PA127#v=onepage&q&f=false