A Revolução dos Pós-Modernos
"Quando nós dizemos "meu ponto de vista", no fundo isso é uma tolice. Este ponto de vista não nasce em mim, mas nasce fora de mim. Ele não é produzido por mim, mas ele é produzido fora de mim e vai a mim. Quem planta este ponto de vista não é a subjetividade. A subjetividade não é autogenética, isto é, ela não dá a luz a seu próprio ponto de vista, mas o ponto de vista é socialmente implantado. A exterioridade gera a carnação, a substância da subjetividade. O ponto de vista subjetivo é um produto objetivo. Não são as formas da subjetividade que engendram os pontos de vista, mas eles são coágulos de realidade sob forma de subjetividade, implantados nesta subjetividade. O meu ponto de vista é apenas a minha participação no coágulo, é a expressão singularizada de um coágulo que é externo a mim." - (J. Chasin)
A
"Revolução" dos pós-modernos não é a revolução dos
proletários -i.e, contra a burguesia, contra os meios de reprodução
do Capital e contra o seu sociometabolismo-, é uma
"revolução-restauração", uma modernização
conservadora situada somente no âmbito dos costumes, da ideologia e
da formatação da Cultura, tendo por meta a formação de um novo
senso comum massificado, fetichista e reificado.
A "Revolução
Cultural Pós-moderna" tem por meta causar um certo 'frisson' na
cena-cultural deletéria [da via-colonial] mas sem mudar radicalmente o modo de produção capitalista e as relações de trabalho. Os Pós-modernos têm por meta causar um
mal-estar civilizatório no seio dos velhacos da burguesia e da
aristocracia reacionária, dos defensores do "Tríplice Pilar" (Deus,
Pátria e Família). Fazem-no por meio da exaltação da libertinagem
-confundida e passada, propositalmente, diante de holofotes e de alguns incautos, como atos "libertários", "atos de resistência identitária", i.e; como atos "emancipadores".
Isto
se dá por todo o globo, não pelo fato dos pós-modernos serem
"internacionalistas" como os Comunistas -eles estão pouco
se lixando para os operários, para a crítica da economia-política e para a
luta de classes- , mas sim, pelo fato de que perseguem obstinadamente a
hegemonia de um tempo, tal como almejam a conformação de um novo norte-consensual alinhado à sua ideologia reacionária.
A
forma de obterem-na, hodiernamente, se perfaz por meio de performances
toscas e libidinosas, por meio de manifestações públicas onde
determinadas lideranças pós-modernas [e uma gangue de seguidores] expressam o seu descontentamento "silenciando" determinada individualidade
midiática conservadora, algum deputado; ou lançando virtualmente "cancelamentos e lacrações" de determinada
celebridade -por vezes progressista- ou até mesmo, de determinados expoentes da igreja, defensores dos
antigos baluartes do tradicionalismo cristão (como defensores da família
nuclear, da misoginia, do patriarcado e Etc).
Os
pós-modernos são arquiconhecidos pela forma de explicitarem o
subjetivismo da burguesia [1] carnado e entificado em suas lideranças, fazem-no em sua quintessência e plasmam-no em acordo com uma teia de relações fetichizadas que se perfazem por meio do
líbelo ao "empoderamento".
O empoderamento é o trampolim oportunístico, político e midiático perfeito para determinadas individualidades
pós-modernas e é o que permite a estes carniçais alçarem a sim mesmos -tanto diante de
holofotes da mídia, quanto como aspirantes à candidaturas burguesas- criando-se, desta forma, uma legião de seguidores igualmente decadentes ideológicos, solipsistas, anti-luzes,, anti-intelectuais, anti-comunistas e anti-operários.
É
verdade que estes indivíduos específicos (alçados à lideranças
pós-modernas) são sempre advindos de minorias (historicamente
segregadas), mas eles não partem da centralidade do trabalho em suas críticas à reação, não trepidam em se tornarem, muito rapidamente, expoentes da pequena-burguesia; a exemplo de tantos burgueses negros, gays reacionários -a exemplo do já falecido Clodovil- ou
mulheres burguesas, alçados a lideranças pós-modernas, os quais enriquecem, otimizam e amplificam organicamente o capitalismo,
potencializando a exploração do homem, o individualismo e reforçam o desfrute humano, afinal, um pós-moderno é uma subjetividade aburguesada e liberal, é um inimigo de classes da generidade humana e dos proletários em luta, é portanto, um arrivista, solipsista, preocupado somente com o seu auto-entesouramento, com suas delícias, com sua estética irracionalista e em auferir a reboque das pautas transversais e dos grandes capitalistas e seus empórios [2].
Os
Pós-modernos engendram "um certo revolvimento" somente no
tocante à aparência, no imaginário popular e à cena-cultural das massas
estranhadas, sobretudo, ao levarem à última consequência o
solipsismo [de berço burguês], o irracionalismo [e as pautas
anti-iluministas], o anti-intelectualismo, o existencialismo, o
relativismo cultural e o identitarismo, todos expressados como uma
enxovalhada raivosa contra os antigos costumes e os remanescentes das
tradições cortesãs de outrora, o que os permitem posar de revolucionários como "cavaleiros por uma noite" e capturar, momentaneamente, a subjetividade do homem expropriado de sua própria essência.
Estas performances são levadas a cabo por uma minoria aburguesada, a qual se torna peça de joguetes estranhos nas mãos de empresários e rapinas do lobby e do marketing, os quais se utilizam-se da destruição da razão, do circo burguês, da alienação do trabalho (acachapante) e do consenso gerado, para garantirem o auto-auferimento, promovendo como expressão simbólica deste o libertinismo pequeno-burguês pós-moderno e uma perversão dos costumes para manterem as coisas como estão, i.e, destrói-se os valores e crenças tradicionais já encanecidos e decrépitos para o século XXI para manterem a valorização do valor, a exploração do mais-valor e a circulação de mercadorias. Sendo assim, os pós-modernos são tão conservadores quanto àqueles que combatem, mas com a diferença que se guarnecem capturando a subjetividade das turbas alienadas, apontando suas armas contra o antigo ethos reacionário, patriarcal, racista, colonial-ibérico (oriundo da aristocracia portuguesa) e ainda bastante arraigado na sociedade brasileira. Ao fim do prélio contra os decrépitos da tradição, visam, este novo setor reacionário, tomar destes antigos baluarte do decrépito, a curatela do Capitalismo e engendrar uma nova época de destruição da razão e de exploração do homem.
"O homem vive e sofre o mundo, cada vez mais como produto de seu produto. Ao limite, como borra residual das forças produtivas. Converte-se em insignificante diante da exuberância da mercadoria multiplicada e das forças produtivas cada vez mais misteriosas que as põem no mundo. Sobre o "véu nebuloso" de um passado recente estende-se uma nova coberta enfeitada, ainda mais espessa e fantasmagórica, que intimida e fascina, obnubila e faz prosélitos, reduzindo o homem a subproduto de uma história que anda e desanda à sua revelia. Em suma, ele desaparece enquanto sujeito, diante da maravilhosa infinitude da mercadoria partogenética, capaz de se oferecer a uns e de se subtrair a outros, tornando nulo o gesto da mão que avança e da boca que reclama." - (Chasin, Marx - Da Razão do Mundo ao Mundo sem Razão)
Os
pós-modernos não possuem, na realidade, nada de revolucionários, a
não ser o grande "abalo" chocante que causam dentre os
Chauvinistas, Padres e Pastores, em especial, ao dinamitarem os costumes, os valores e os símbolos dos setores
reacionários mais tradicionais dos "cidadãos
de bem".
Em realidade, os pós-modernos são uma fração da
pequena-burguesia ávida por sequestrar o modo de produção
capitalista, pilhando o botim e desbancando um setor majoritário e ultraconservador, sobretudo, nos
costumes. No tocante ao modo de produção, os pós-modernos são tão
conservadores e liberais quanto sua falsa nêmesis [contra a qual encampam um falso "combate"].
Como todo filamento
burguês, os pós-modernos almejam se assenhorar do Modo de produção do Capital, urdir
-sem a ingerência dos antigos curadores tradicionalistas- as volições de um tempo, a cena-cultural, artística já putrefeita, em suma, a ideologia deletéria deste ínterim, mantendo intactas as cadeias de
explorações do homem pelo homem [que resultam no garimpo da Mais-Valia], a sociedade de classes, a
propriedade privada, o Estado e a alienação do Trabalho.
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[1] - "Todas as relações sociais entre os homens aparecem sob a forma de relações fluidas, entre coisas, sob a aparência de realidades 'naturais', estranhas, unilaterais e independentes da sua ação. Os produtos da atividade do ser social, desde a esfera da economia àquela da cultura, revelam-se aos indivíduos como algo inteiramente alheio à sua essência (a vida social dos homens). Essa vida social converte-se num objeto 'coisificado', inumano, que não pode mais comportar nenhuma subjetividade autenticamente humana; essa subjetividade estranhada, por sua vez, torna-se desligada de suas objetivações concretas, nas quais -e por meio das quais- se constitui e ganha conteúdo místico, apologético ao capital, transforma-se igualmente num fetiche vazio. Essa fetichização simultânea do sujeito, das sensações e do objeto, paralela à ruptura dos laços imediatos dentre indivíduo e objetivações; e entre indivíduo e comunidade, é a mais evidente consequência social da divisão capitalista do trabalho em sua fase madura." - (Carlos Nelson Coutinho, Estruturalismo e a Miséria da Razão)
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[2] - "Nenhum eunuco lisonjeia a seu tirano de forma mais desavergonhada, nem procura por meios mais infames estimular seu apetite embotado, a fim de granjear algum favor, do que o eunuco da indústria, o homem de empresas, sempre a fim de adquirir algumas moedas de prata ou de atrair o ouro da bolsa de seu amado próximo. Todo produto é uma isca por meio da qual o indivíduo tenta engodar a essência da outra pessoa, o dinheiro desta. Toda necessidade real ou potencial é uma fraqueza que atrairá o passarinho para o visgo: a exploração universal da vida humana em comunidade. Como toda imperfeição do homem é um vínculo com o céu, um ponto em que seu coração fica descoberto e é acessível ao sacerdote, assim também, toda necessidade material é uma oportunidade de negócios para a gente aproximar-se do seu próximo, com uma atitude mui amistosa, e dizer-lhe: Caro amigo, dar-lhe-ei aquilo de que você precisa, mas você conhece a conditio sine qua non, você sabe com qual tinta tem de usar para entregar-se a mim! Eu o trapacearei ao proporcionar-lhe satisfação e prazer. O homem de empresa concorda com os mais depravados caprichos de seu próximo, desempenha o papel de alcoviteiro entre eles e suas necessidades, desperta apetites mórbidos, nele, e presta atenção a cada fraqueza a fim de, posteriormente, reivindicar a remuneração por esse serviço de amor." - (Marx, Manuscritos Econômico-Filosóficos)